CONNAN MOCKASIN "Caramel"
por joao pedro amorim
4 de novembro de 2013
Caramelo, substância que tem tanto de docinho como de peganhento, tem igualmente uma fonética interessante, especialmente na sua versão inglesa. Foi isto que empurrou Connan Mockasin a trocar golfinhos, unicórnios e sapos de louça por um simples doce. Caramel faz jus ao nome: é sensual, doce, peganhento, intenso e efémero.
O novo álbum arranca em Nothing Lasts Forever. Remake negro de Forever Dolphin Love, acrescentemos à sua perfeição melódica dois anos de distância. Não é só uma ponte com o álbum anterior, é ver um amor antigo assim como qualquer expectativa de eternidade - seja amor ou vida - desvanecer-se em fios do doce de ouro. É a curtinha Caramel, que derrete sobre o golfinho que foge. Melancólica, luminosa e cheia de luxo, esconde o verso "she'll never gonna find you" entre vocalizações orgásmicas e dá assim o mote para I'm the man that will find you. Altamente Mockasiano, este tema é a obsessão levada ao extremo. Há vozes diferentes, há alter-egos e estados mentais lânguidos, exasperados e cansados.
Segue-se o momento de mais fraca inspiração do álbum. Do I make you feel shy?, fórmula que grita Ariel Pink e que, talvez por isso, soe a desilusão. Importa referir a linha "My Ava lost Eva" cantada ao jeito de um Lennon de #9 Dream, que no entanto, nada faz para além de nos confundir um pouco.
Depois deste momento frouxo, Caramel volta onde estava antes. Lágrimas, uma guitarra que soa a épico dos 70/80s ao mesmo tempo que tresanda a Connan. "Stop it now, stop it now, stop right now" grita Connan num dos momentos mais intensos e sinceros da música dita indie recente. Um álbum que quer ser feliz e bem-disposto, que quer amar e ser amado. Mas não consegue. It's your body, nas suas várias camadas não é só a exploração do conceito de um acidente de carro -ler a apresentação do álbum -, é a descoberta de um corpo feita a vários ritmos, o navegar em alguém com quem o sujeito poético gostaria de se enroscar para sempre. Talvez não seja amor ( "you're such an easy flirt" diz Mockasin em I wanna roll with you), mas é um sentimento honesto, efémero mas intenso, como Caramel. A paixão merece um trono que derreta debaixo da língua.
Acima de tudo, Caramel é coerente e eficaz no seu alinhamento. As canções/sons fluem. Pega ainda em Forever Dolphin Love e segue por um novo universo. Até a chouchinha Do I make you feel shy? soa deliciosa depois de I'm the man that will find you e antes de Why are you crying. Sabe a pouco, porque tudo em Connan sabe a pouco. Talvez essa seja parte do fascínio que a sua música desperta em nós: dá-nos apenas um cheiro de tudo o que poderia ser, espécie de sonho molhado que provavelmente será o ponto-alto do nosso dia. Caramel é para se ouvir de uma vez só, muitas vezes.
O novo álbum arranca em Nothing Lasts Forever. Remake negro de Forever Dolphin Love, acrescentemos à sua perfeição melódica dois anos de distância. Não é só uma ponte com o álbum anterior, é ver um amor antigo assim como qualquer expectativa de eternidade - seja amor ou vida - desvanecer-se em fios do doce de ouro. É a curtinha Caramel, que derrete sobre o golfinho que foge. Melancólica, luminosa e cheia de luxo, esconde o verso "she'll never gonna find you" entre vocalizações orgásmicas e dá assim o mote para I'm the man that will find you. Altamente Mockasiano, este tema é a obsessão levada ao extremo. Há vozes diferentes, há alter-egos e estados mentais lânguidos, exasperados e cansados.
Segue-se o momento de mais fraca inspiração do álbum. Do I make you feel shy?, fórmula que grita Ariel Pink e que, talvez por isso, soe a desilusão. Importa referir a linha "My Ava lost Eva" cantada ao jeito de um Lennon de #9 Dream, que no entanto, nada faz para além de nos confundir um pouco.
Depois deste momento frouxo, Caramel volta onde estava antes. Lágrimas, uma guitarra que soa a épico dos 70/80s ao mesmo tempo que tresanda a Connan. "Stop it now, stop it now, stop right now" grita Connan num dos momentos mais intensos e sinceros da música dita indie recente. Um álbum que quer ser feliz e bem-disposto, que quer amar e ser amado. Mas não consegue. It's your body, nas suas várias camadas não é só a exploração do conceito de um acidente de carro -ler a apresentação do álbum -, é a descoberta de um corpo feita a vários ritmos, o navegar em alguém com quem o sujeito poético gostaria de se enroscar para sempre. Talvez não seja amor ( "you're such an easy flirt" diz Mockasin em I wanna roll with you), mas é um sentimento honesto, efémero mas intenso, como Caramel. A paixão merece um trono que derreta debaixo da língua.
Acima de tudo, Caramel é coerente e eficaz no seu alinhamento. As canções/sons fluem. Pega ainda em Forever Dolphin Love e segue por um novo universo. Até a chouchinha Do I make you feel shy? soa deliciosa depois de I'm the man that will find you e antes de Why are you crying. Sabe a pouco, porque tudo em Connan sabe a pouco. Talvez essa seja parte do fascínio que a sua música desperta em nós: dá-nos apenas um cheiro de tudo o que poderia ser, espécie de sonho molhado que provavelmente será o ponto-alto do nosso dia. Caramel é para se ouvir de uma vez só, muitas vezes.