Paredes de Coura: Em busca do tempo que volta
por francisco vaz, 26 de agosto, 23:40
"Uma pancadinha no lajedo, como se alguma coisa ali tivesse esbarrado, seguida de uma vasta queda leve, como que de grãos de areia que alguém deixasse cair de uma janela lá de cima, e depois a queda alargada, regulada, rítmica, agora fluida, sonora, musical, inumerável, universal: era a chuva."
Foi Marcel Proust que o disse no seu livro "Em Busca Do Tempo Perdido", que um pouco como o festival Vodafone Paredes de Coura nos faz olhar para o passado. Mas Paredes Coura não é uma busca pelo tempo perdido, pois a cada ano voltamos a vivê-lo. É mais uma busca por esse bom passado dos anos anteriores. Esse tempo que faz com que fora dali sintamos que estamos a desperdiçar algo.
E foi ao último dia que a chuva apareceu, para dar uma carga poética a um festival que tem uma grande carga etérea. Apareceu durante umas horas, para relembrar que dele faz parte, mas sem arruinar a noite. O resto dos dias do festival foram preenchidos por um sol intenso.
Super Yellow Duck, Toulouse, Les Crazy Coconuts e Escola do Rock foram alguns dos nomes que fizeram a festa na vila, a anteceder o festival, durante os dias 15, 16, 17 e 18. Pairava uma enorme curiosidade por este ano completamente lotado. E claro, uma excitação por voltar à casa mãe dos festivais.
Até que chegou o dia 19. Mas as actividades teimavam em aparecer, talvez para preparar a entrada no recinto. Gin Party Soundsystem tratavam de fazer a festa desde as 3 da tarde até às 7. O "before party", num Xapas Bar extremamente quente, mas ainda assim lotado, com a euforia a ajudar.
Ao chegar ao recinto viam-se pessoas que são novas no festival ansiosas por descobrir tudo, o fascínio de ver tantas pessoas reunidas (o que não era uma novidade visto que o acampamento estava cheio de gente há vários dias e o rio juntava uma multidão invulgar nos dias antecedentes ao festival).
E pôde-se ver isso em Slowdive com um anfiteatro completamente cheio. Notando-se um certo envelhecimento desde o concerto no ainda Optimus Primavera Sound 2014, com a voz da Rachel a mostrar um certo cansaço, não deixou de ser aterrador, continuando a elevar o nome do Shoegaze e a retirá-lo um pouco do estatuto de culto.
Estando o público num estado um tanto ou quanto ébrio à custa da sonoridade etérea, carregada de delays.
E havia agora tempo de antena para TV On The Radio, essa banda que conseguiu uma das melhores actuações do Vodafone Paredes de Coura. Asseguraram a festa e quebraram com o espírito e ambiente em que Slowdive nos deixou para dar lugar à euforia. Pensar no quão fantástico seria o resto do festival (em Slowdive as mentes não viajavam para o resto do festival. Iam para um lugar inacessível, o da introspecção).
Segundo dia começa com Hinds, essas 4 endiabradas de Madrid, com a sua postura rock sensual, um pouco a fazer lembrar a postura de Warpaint. Entre alegria que o som delas causava e o desejo de as conhecer, havia a vontade de prolongar o que ali se passava. Houve mesmo pessoas que no fim do concerto se aproximaram das grades para as fotografar.
E Pond sobem a palco. Provavelmente a banda que mais encheu o palco Vodafone Fm. Eram 19 horas e não cabia uma única alma. Com uma energia impressionante passada do palco para quem assistia e vice versa, aproveitava-se até ao último momento, como se de after se tratasse. Não importava o dia estar no início. Era necessário descarregar tudo.
Com Father John Misty o festival alcançou algo até ali inimaginável. Foi uma surpresa para muita gente. Para os que não conheciam, que sentiram uma grande empatia com o Senhor (muitos lhe chamaram isso… um pouco a fazer lembrar o que se disse de Jarvis Cocker), para os que o conheciam e esperavam algo de grande mas que mesmo assim ficaram encantados, e para os que esperavam que fosse o melhor concerto e viram isso realizado. Entre afirmações críticas ao estado social mundial, com um certo sarcasmo, e declarações de amor para com quem ali estava presente subia-se a emoção. Conseguiu ser o mais belo dos concertos. E assim se foi embalado para Tame Impala.
Legendary Tigerman a dar uma dar uma das maiores actuações. Perante um número de espectadores invulgar para as suas actuações, Paulo Furtado não se deixou intimidar. Segurou a hora e meia com confiança, soltou o tigerman que nele há.
A deixar o microfone para um jovem que gritava até à exaustão o mote que Paulo deixou , "Rock'n Roll, Rock'n Roll".
Alguém disse que a discussão passava por avaliar se Tame Impala foi um bom ou mau concerto. Há quem abomine Tame Impala, mas grande parte das críticas negativas passam muito pelo argumento "Não gosto deste último álbum. Não funciona." Isso não invalida que não tenha sido um grande concerto. Vai mais no sentido de não haver uma ligação emocional com a nova sonoridade e portanto ser difícil de suportaras quase duas horas de concerto.
Kevin Parker encontra-se com uma postura muito diferente da de há 2 anos, quando actuou no Optimus Alive. Muito mais à vontade com o público, mais confiante, e em concordância com a nova sonoridade "dançável". Esta nova postura está muito mais para a nova sonoridade do que a anterior, tímida, reservada, estava para o rock psicadélico.
Conseguiu ainda dar ênfase à voz etérea, tirando um pouco de protagonismo aos Slowdive, que nesse campo são uma referência incontornável.
E para encerrar a noite, temos o já habitual Nuno Lopes, a render os festivaleiros às músicas que escolheu. Mesmo com músicas como Chop Suey dos System of a Down, ou a Charming Man dos Smiths, conseguiu prender a gente até às 6 da manhã. Parecia um pouco uma despedida de Coura pois o dia tinha sido intenso.
No dia 21 houve um pouco de tudo. Uma banda que aborreceu quem assistiu (Mark Lanegan Band), um senhor a quem chamaram de Deus (Charles Bradley), uma desilusão (The War On Drugs) e uma grande surpresa (Tanlines).
Mark Lanegan conseguiu pôr a gente sentada num início de noite onde havia ainda muito para explorar, muito para saltar.
Teve como momento alto uma cover da Atmosphere dos Joy Division.
Charles Bradley And His Extraordinaires . Este foi um dos maiores concertos desta edição. É o nome que reúne mais consenso, com toda a gente a dizer que gostou do concerto. Inclusive, até pessoas que viram apenas pela televisão vieram questionar se foi um grande espectáculo pois pelo que viram pareceu-lhes.
Este senhor de 66 anos saiu de si próprio para dar amor a toda a gente, afirmando que não importa a cor, afirmando que amava aquela multidão.
É notável que entre tantos fãs, com tantas preferencias musicais diversificadas, tenha sido alguém com um estilo tão próprio a ser considerado o melhor concerto.
The War On Drugs eram um nome muito aguardado mas só conseguiram deixar uma certa desilusão no ar. Não conseguiram estar à altura de um álbum que era por muitos adorado (e odiado por outros). Os solos demasiado extensos, a voz um tanto ou quanto diferente do que se esperava (e não para melhor) e uma falta de energia, tanto sonora como física, tornaram esta actuação numa das mais difíceis de digerir. A gravidade é acentuada pois havia ligação emocional com o último álbum, e mesmo assim não conseguiram cativar o público (como disse, o grande problema da actuação de Tame Impala foi o facto de muita gente não se identificar com o álbum Currents.)
Por último, ao tocarem a Red Eyes, deram-lhe uma pujança que era desnecessária e que criou um grande contraste com o resto do concerto que foi parado.
Tanlines. Pessoalmente a maior surpresa do cartaz. As danças suaves, alucinadas e ainda assim enérgicas de Eric Emm empolgavam quem o via. A onda chilwave que trouxeram estavam de acordo com a hora, e claro, ajudaram a soltar e a animar, coisa que The War On Drugs não conseguiram fazer.
Para o último dia, 22, Temples, Woods, Ratatat, Natalie Prass, Sylvan Esso, Fuzz e Soft Moon encarregaram-se de cada a seu jeito, findar uma edição histórica. Histórica por todas as inovações, pelos nomes, pela diversão, pela organização.
Houve quem bradasse aos céus para que Woods acabasse, que as músicas eram todas iguais, quem ficasse encantado pela harmonia e cenários de palco. Mas tudo ia bem para um final de tarde relaxado. A contrastar com um final de noite completamente eufórico, a cargo de Ratatat, com uma saída de palco que parecia prometer um encore, mas que na verdade não passou de uma ilusão.
Uns Fuzz totalmente endiabrados, de cara pintada de branco, com Ty Segall na bateria a libertar os muitos braços que parecia conter. Tudo aos saltos, mesmo entre músicas. Dir-se-ia que algo de anormal ali pairava.
A poesia no Palco Jazz, a presença de Peixe, no dia 21, também neste palco (a terminar com a Ouvi Dizer, apenas instrumental, perante uma plateia sentada, um pouco em transe), as sessões de poesia, que se ouviam por todo o rio, pelos que estavam em frente ao palco, pelos que passavam, pelos que liam, pelos que jogavam às cartas, jogavam football, por aqueles que faziam concentrações de barcos, nadavam no rio (naquela água gelada onde não se consegue permanecer muito tempo, mas que por isso mesmo fica congelada na memória), tudo isso criou um ambiente inesquecível.
A vida em Afters
Claro que falta falar de uma parte importante: Quando se sai do recinto às 6 da manhã. As pessoas que querem continuar a festa num esforço que fora de Coura seria inútil.
Eram 6 e tal da manhã da penúltima noite quando as pessoas que estavam no meu acampamento decidiram não deixar morrer a festa.
Pegou-se numa guitarra, um cajone, um crash zildjian (partido), um double cowbell, um shaker e uma caneca e dirigimo-nos ao largo que fica à beira do riacho e da ponte do passadiço de cimento.
Pelo caminho as pessoas perguntavam-nos se ia haver alguma coisa. À resposta afirmativa seguiam caminho connosco. De 5 pessoas passámos a mais de 20.
Ao chegar ao local já lá se encontravam à volta de 50 pessoas. À medida que a música avançava mais gente se juntava. Um dos jovens que me acompanhava foi buscar a câmara para fazer filmagens. Um fotógrafo (Nelson D'aires) apareceu entretanto e começou a fotografar o momento.
As atenções eram divididas entre a música e a Coura (a cadela tão conhecida e amada pelo festival).
E assim continuou pela manhã fora. E continua em cada um de nós.
Foi Marcel Proust que o disse no seu livro "Em Busca Do Tempo Perdido", que um pouco como o festival Vodafone Paredes de Coura nos faz olhar para o passado. Mas Paredes Coura não é uma busca pelo tempo perdido, pois a cada ano voltamos a vivê-lo. É mais uma busca por esse bom passado dos anos anteriores. Esse tempo que faz com que fora dali sintamos que estamos a desperdiçar algo.
E foi ao último dia que a chuva apareceu, para dar uma carga poética a um festival que tem uma grande carga etérea. Apareceu durante umas horas, para relembrar que dele faz parte, mas sem arruinar a noite. O resto dos dias do festival foram preenchidos por um sol intenso.
Super Yellow Duck, Toulouse, Les Crazy Coconuts e Escola do Rock foram alguns dos nomes que fizeram a festa na vila, a anteceder o festival, durante os dias 15, 16, 17 e 18. Pairava uma enorme curiosidade por este ano completamente lotado. E claro, uma excitação por voltar à casa mãe dos festivais.
Até que chegou o dia 19. Mas as actividades teimavam em aparecer, talvez para preparar a entrada no recinto. Gin Party Soundsystem tratavam de fazer a festa desde as 3 da tarde até às 7. O "before party", num Xapas Bar extremamente quente, mas ainda assim lotado, com a euforia a ajudar.
Ao chegar ao recinto viam-se pessoas que são novas no festival ansiosas por descobrir tudo, o fascínio de ver tantas pessoas reunidas (o que não era uma novidade visto que o acampamento estava cheio de gente há vários dias e o rio juntava uma multidão invulgar nos dias antecedentes ao festival).
E pôde-se ver isso em Slowdive com um anfiteatro completamente cheio. Notando-se um certo envelhecimento desde o concerto no ainda Optimus Primavera Sound 2014, com a voz da Rachel a mostrar um certo cansaço, não deixou de ser aterrador, continuando a elevar o nome do Shoegaze e a retirá-lo um pouco do estatuto de culto.
Estando o público num estado um tanto ou quanto ébrio à custa da sonoridade etérea, carregada de delays.
E havia agora tempo de antena para TV On The Radio, essa banda que conseguiu uma das melhores actuações do Vodafone Paredes de Coura. Asseguraram a festa e quebraram com o espírito e ambiente em que Slowdive nos deixou para dar lugar à euforia. Pensar no quão fantástico seria o resto do festival (em Slowdive as mentes não viajavam para o resto do festival. Iam para um lugar inacessível, o da introspecção).
Segundo dia começa com Hinds, essas 4 endiabradas de Madrid, com a sua postura rock sensual, um pouco a fazer lembrar a postura de Warpaint. Entre alegria que o som delas causava e o desejo de as conhecer, havia a vontade de prolongar o que ali se passava. Houve mesmo pessoas que no fim do concerto se aproximaram das grades para as fotografar.
E Pond sobem a palco. Provavelmente a banda que mais encheu o palco Vodafone Fm. Eram 19 horas e não cabia uma única alma. Com uma energia impressionante passada do palco para quem assistia e vice versa, aproveitava-se até ao último momento, como se de after se tratasse. Não importava o dia estar no início. Era necessário descarregar tudo.
Com Father John Misty o festival alcançou algo até ali inimaginável. Foi uma surpresa para muita gente. Para os que não conheciam, que sentiram uma grande empatia com o Senhor (muitos lhe chamaram isso… um pouco a fazer lembrar o que se disse de Jarvis Cocker), para os que o conheciam e esperavam algo de grande mas que mesmo assim ficaram encantados, e para os que esperavam que fosse o melhor concerto e viram isso realizado. Entre afirmações críticas ao estado social mundial, com um certo sarcasmo, e declarações de amor para com quem ali estava presente subia-se a emoção. Conseguiu ser o mais belo dos concertos. E assim se foi embalado para Tame Impala.
Legendary Tigerman a dar uma dar uma das maiores actuações. Perante um número de espectadores invulgar para as suas actuações, Paulo Furtado não se deixou intimidar. Segurou a hora e meia com confiança, soltou o tigerman que nele há.
A deixar o microfone para um jovem que gritava até à exaustão o mote que Paulo deixou , "Rock'n Roll, Rock'n Roll".
Alguém disse que a discussão passava por avaliar se Tame Impala foi um bom ou mau concerto. Há quem abomine Tame Impala, mas grande parte das críticas negativas passam muito pelo argumento "Não gosto deste último álbum. Não funciona." Isso não invalida que não tenha sido um grande concerto. Vai mais no sentido de não haver uma ligação emocional com a nova sonoridade e portanto ser difícil de suportaras quase duas horas de concerto.
Kevin Parker encontra-se com uma postura muito diferente da de há 2 anos, quando actuou no Optimus Alive. Muito mais à vontade com o público, mais confiante, e em concordância com a nova sonoridade "dançável". Esta nova postura está muito mais para a nova sonoridade do que a anterior, tímida, reservada, estava para o rock psicadélico.
Conseguiu ainda dar ênfase à voz etérea, tirando um pouco de protagonismo aos Slowdive, que nesse campo são uma referência incontornável.
E para encerrar a noite, temos o já habitual Nuno Lopes, a render os festivaleiros às músicas que escolheu. Mesmo com músicas como Chop Suey dos System of a Down, ou a Charming Man dos Smiths, conseguiu prender a gente até às 6 da manhã. Parecia um pouco uma despedida de Coura pois o dia tinha sido intenso.
No dia 21 houve um pouco de tudo. Uma banda que aborreceu quem assistiu (Mark Lanegan Band), um senhor a quem chamaram de Deus (Charles Bradley), uma desilusão (The War On Drugs) e uma grande surpresa (Tanlines).
Mark Lanegan conseguiu pôr a gente sentada num início de noite onde havia ainda muito para explorar, muito para saltar.
Teve como momento alto uma cover da Atmosphere dos Joy Division.
Charles Bradley And His Extraordinaires . Este foi um dos maiores concertos desta edição. É o nome que reúne mais consenso, com toda a gente a dizer que gostou do concerto. Inclusive, até pessoas que viram apenas pela televisão vieram questionar se foi um grande espectáculo pois pelo que viram pareceu-lhes.
Este senhor de 66 anos saiu de si próprio para dar amor a toda a gente, afirmando que não importa a cor, afirmando que amava aquela multidão.
É notável que entre tantos fãs, com tantas preferencias musicais diversificadas, tenha sido alguém com um estilo tão próprio a ser considerado o melhor concerto.
The War On Drugs eram um nome muito aguardado mas só conseguiram deixar uma certa desilusão no ar. Não conseguiram estar à altura de um álbum que era por muitos adorado (e odiado por outros). Os solos demasiado extensos, a voz um tanto ou quanto diferente do que se esperava (e não para melhor) e uma falta de energia, tanto sonora como física, tornaram esta actuação numa das mais difíceis de digerir. A gravidade é acentuada pois havia ligação emocional com o último álbum, e mesmo assim não conseguiram cativar o público (como disse, o grande problema da actuação de Tame Impala foi o facto de muita gente não se identificar com o álbum Currents.)
Por último, ao tocarem a Red Eyes, deram-lhe uma pujança que era desnecessária e que criou um grande contraste com o resto do concerto que foi parado.
Tanlines. Pessoalmente a maior surpresa do cartaz. As danças suaves, alucinadas e ainda assim enérgicas de Eric Emm empolgavam quem o via. A onda chilwave que trouxeram estavam de acordo com a hora, e claro, ajudaram a soltar e a animar, coisa que The War On Drugs não conseguiram fazer.
Para o último dia, 22, Temples, Woods, Ratatat, Natalie Prass, Sylvan Esso, Fuzz e Soft Moon encarregaram-se de cada a seu jeito, findar uma edição histórica. Histórica por todas as inovações, pelos nomes, pela diversão, pela organização.
Houve quem bradasse aos céus para que Woods acabasse, que as músicas eram todas iguais, quem ficasse encantado pela harmonia e cenários de palco. Mas tudo ia bem para um final de tarde relaxado. A contrastar com um final de noite completamente eufórico, a cargo de Ratatat, com uma saída de palco que parecia prometer um encore, mas que na verdade não passou de uma ilusão.
Uns Fuzz totalmente endiabrados, de cara pintada de branco, com Ty Segall na bateria a libertar os muitos braços que parecia conter. Tudo aos saltos, mesmo entre músicas. Dir-se-ia que algo de anormal ali pairava.
A poesia no Palco Jazz, a presença de Peixe, no dia 21, também neste palco (a terminar com a Ouvi Dizer, apenas instrumental, perante uma plateia sentada, um pouco em transe), as sessões de poesia, que se ouviam por todo o rio, pelos que estavam em frente ao palco, pelos que passavam, pelos que liam, pelos que jogavam às cartas, jogavam football, por aqueles que faziam concentrações de barcos, nadavam no rio (naquela água gelada onde não se consegue permanecer muito tempo, mas que por isso mesmo fica congelada na memória), tudo isso criou um ambiente inesquecível.
A vida em Afters
Claro que falta falar de uma parte importante: Quando se sai do recinto às 6 da manhã. As pessoas que querem continuar a festa num esforço que fora de Coura seria inútil.
Eram 6 e tal da manhã da penúltima noite quando as pessoas que estavam no meu acampamento decidiram não deixar morrer a festa.
Pegou-se numa guitarra, um cajone, um crash zildjian (partido), um double cowbell, um shaker e uma caneca e dirigimo-nos ao largo que fica à beira do riacho e da ponte do passadiço de cimento.
Pelo caminho as pessoas perguntavam-nos se ia haver alguma coisa. À resposta afirmativa seguiam caminho connosco. De 5 pessoas passámos a mais de 20.
Ao chegar ao local já lá se encontravam à volta de 50 pessoas. À medida que a música avançava mais gente se juntava. Um dos jovens que me acompanhava foi buscar a câmara para fazer filmagens. Um fotógrafo (Nelson D'aires) apareceu entretanto e começou a fotografar o momento.
As atenções eram divididas entre a música e a Coura (a cadela tão conhecida e amada pelo festival).
E assim continuou pela manhã fora. E continua em cada um de nós.