Entrevista a Atillla
por João Pedro Amorim
1 - I, II, III, IV em dois anos. É uma história por capítulos? Qual foi o prólogo do projecto?
Não sei se há uma narrativa em que os quatro ditos capítulos se insiram, mas pelo menos pessoalmente são quatro capítulos de exploração e experimentação, daí também o curto intervalo de tempo. Foi uma questão de ir deitando ideias cá para fora. E eu gosto das coisas indexadas, talvez daí a numeração, não sei, gosto de sentir uma evolução a acompanhar os números. O prólogo ou a génese do projecto surgiu muito de uma questão de experimentação com o que tinha à mão: um casio manhoso, pedais e um computador, e fui fazendo coisas até achar que estavam mostráveis. Desde aí o feedback positivo e a necessidade de fazer deram continuidade à coisa.
2 - Este ano, além da primeira pedra para o V, lançaste duas canções. Uma delas, Total War é bastante coerente com o ano que passou - crise na Crimeia, situação síria e o ISIS, não achas?
Não lancei a canção com nenhum intuito político ou social. Acho que o facto de ser uma cover e a música ser de 1997 mostra bem que é um paradigma constante, e portanto estou só a revalidar uma constatação dos factos. Em qualquer ano era válida. O que gosto nela é a confrontação de violência crua que ela traz. E é uma música bastante animada de se fazer cover, bastante libertadora e sempre actual.
3 - Fui ver ao facebook quando prometeste álbum novo. Já foi em setembro. Para quando o V e o que podemos esperar?
Posso adiantar que o V está pronto e podem esperá-lo para breve, Fevereiro provavelmente, com edição física na Bisnaga Records. Tem 42 minutos e acho sinceramente que é o meu trabalho mais negro e bem conseguido. Podem esperar muito mais electrónica a acontecer, com direito a partepistismo nalguns momentos.
4 -Total War é uma das primeiras (pelo menos a única que eu conheço) em que as tuas músicas têm voz. Neste caso é uma cover, mas já se sabe que o V também vai contar com voz (do António Costa dos Ermo). Isso obriga-te a pensar os temas de forma diferente, ou a voz só aparece depois?
A voz tem estado presente em praticamente todos os registos, talvez não de forma tão presente ou inteligível mas tem lá estado. Eu tendo a percepcionar a voz na música como mais um instrumento ou um som, acrescenta camadas, texturas e tal como o resto produz algum feedback emocional. Obviamente que no caso da Total War e da música com o António as palavras também importam e trazem um novo significado acrescido. Seja como for a voz é normalmente trabalhada em função do todo e não o contrário.
5 - Foi algo de que sentiste necessidade ou foi só uma experiência?
Neste caso foi uma experiência, mas é algo que gostava de fazer com mais regularidade. Nomeadamente trabalhar com vozes mais limpas ou melódicas, algo que eu não consigo reproduzir de todo. Acima de tudo trabalhar com outra pessoa consegue ser muito compensador. Pelo menos neste caso saí positivamente surpreendido e acho que a música está muito bem conseguida por ambos.
6 - Nalguns momentos, a tua música faz lembrar esmagamento de crânios, pilhagens de aldeias e outras coisas pouco simpáticas. És um gajo mau - como o teu homónimo huno - ou até és um tipo sensível?
Acho giro que a minha música faça lembrar isso, não é o meu intuito mas não me desagrada de todo. Eu interpreto a música como uma coisa muito catártica, acho que é por isso que tendo a fazer coisas mais negras, é uma forma de libertação. E acho que isso me ajuda a sentir melhor comigo enquanto ser humano. Por isso sim, depois de conjurar magia negra com os instrumentos facilmente estou com um gato ao colo a falar com voz demasiado aguda. Suponho que isso seja ser um tipo sensível.
7 - Sentes que fazes "música psicologicamente densa"? Ou procuras ser mais visceral, trabalhar numa dimensão mais física?
Não sinto que as duas coisas se oponham. Tento manter um equilíbrio entre ambos, o visceral e o denso. A forma como as coisas tendem a sair é bastante natural, mais intuitiva do que pensada, portanto existe aí alguma crueza, mas ao longo do processo aquilo que foi cru vai sendo refinado, por isso mantendo as raízes no físico as coisas vão atingindo outra dimensão mais psicológica, se lhe quiseres assim chamar.
8 - Para além de Caribou, que é que ouviste este ano e que forma é que isso te influenciou - se é que te influenciou?
Se formos a pensar em Atillla concretamente provavelmente os discos que mais me influenciaram deste ano foram o I Shall Die Here dos The Body e o Solens Arc de Kangding Ray. Estão numa linguagem próxima da minha, um mais negro e outro mais eletrónico, e sinto que conseguem estar ligeiramente reflectidos, como tudo o que recebo, no que tenho feito. Os discos de Have A Nice Life e Wreck and Reference também me abalaram muito, não tanto na linguagem mas no impacto emocional e visceral que trazem.
9 - 2014 foi um ano castiço - começaste a tocar ao vivo e logo muito bem acompanhado (Tim Hecker no Pos Amplifest), e peças no Público e em meios espanhóis. Começas 2015, a alargar o império em Espanha (com Vessel). Como estás a trabalhar para o novo ano?
De momento estou a trabalhar em tudo o que envolve o lançamento do V, e felizmente não estou a trabalhar sozinho. Também estão a ser agendados já alguns concertos para além do de Santiago de Compostela, ainda nada lá fora, mas cidades novas por Portugal serão visitadas. Tenho feito música fora de Atillla e talvez recupere algumas ideias para trabalhos futuros mas nesse sentido ainda não está nada em andamento pós-V.
Não sei se há uma narrativa em que os quatro ditos capítulos se insiram, mas pelo menos pessoalmente são quatro capítulos de exploração e experimentação, daí também o curto intervalo de tempo. Foi uma questão de ir deitando ideias cá para fora. E eu gosto das coisas indexadas, talvez daí a numeração, não sei, gosto de sentir uma evolução a acompanhar os números. O prólogo ou a génese do projecto surgiu muito de uma questão de experimentação com o que tinha à mão: um casio manhoso, pedais e um computador, e fui fazendo coisas até achar que estavam mostráveis. Desde aí o feedback positivo e a necessidade de fazer deram continuidade à coisa.
2 - Este ano, além da primeira pedra para o V, lançaste duas canções. Uma delas, Total War é bastante coerente com o ano que passou - crise na Crimeia, situação síria e o ISIS, não achas?
Não lancei a canção com nenhum intuito político ou social. Acho que o facto de ser uma cover e a música ser de 1997 mostra bem que é um paradigma constante, e portanto estou só a revalidar uma constatação dos factos. Em qualquer ano era válida. O que gosto nela é a confrontação de violência crua que ela traz. E é uma música bastante animada de se fazer cover, bastante libertadora e sempre actual.
3 - Fui ver ao facebook quando prometeste álbum novo. Já foi em setembro. Para quando o V e o que podemos esperar?
Posso adiantar que o V está pronto e podem esperá-lo para breve, Fevereiro provavelmente, com edição física na Bisnaga Records. Tem 42 minutos e acho sinceramente que é o meu trabalho mais negro e bem conseguido. Podem esperar muito mais electrónica a acontecer, com direito a partepistismo nalguns momentos.
4 -Total War é uma das primeiras (pelo menos a única que eu conheço) em que as tuas músicas têm voz. Neste caso é uma cover, mas já se sabe que o V também vai contar com voz (do António Costa dos Ermo). Isso obriga-te a pensar os temas de forma diferente, ou a voz só aparece depois?
A voz tem estado presente em praticamente todos os registos, talvez não de forma tão presente ou inteligível mas tem lá estado. Eu tendo a percepcionar a voz na música como mais um instrumento ou um som, acrescenta camadas, texturas e tal como o resto produz algum feedback emocional. Obviamente que no caso da Total War e da música com o António as palavras também importam e trazem um novo significado acrescido. Seja como for a voz é normalmente trabalhada em função do todo e não o contrário.
5 - Foi algo de que sentiste necessidade ou foi só uma experiência?
Neste caso foi uma experiência, mas é algo que gostava de fazer com mais regularidade. Nomeadamente trabalhar com vozes mais limpas ou melódicas, algo que eu não consigo reproduzir de todo. Acima de tudo trabalhar com outra pessoa consegue ser muito compensador. Pelo menos neste caso saí positivamente surpreendido e acho que a música está muito bem conseguida por ambos.
6 - Nalguns momentos, a tua música faz lembrar esmagamento de crânios, pilhagens de aldeias e outras coisas pouco simpáticas. És um gajo mau - como o teu homónimo huno - ou até és um tipo sensível?
Acho giro que a minha música faça lembrar isso, não é o meu intuito mas não me desagrada de todo. Eu interpreto a música como uma coisa muito catártica, acho que é por isso que tendo a fazer coisas mais negras, é uma forma de libertação. E acho que isso me ajuda a sentir melhor comigo enquanto ser humano. Por isso sim, depois de conjurar magia negra com os instrumentos facilmente estou com um gato ao colo a falar com voz demasiado aguda. Suponho que isso seja ser um tipo sensível.
7 - Sentes que fazes "música psicologicamente densa"? Ou procuras ser mais visceral, trabalhar numa dimensão mais física?
Não sinto que as duas coisas se oponham. Tento manter um equilíbrio entre ambos, o visceral e o denso. A forma como as coisas tendem a sair é bastante natural, mais intuitiva do que pensada, portanto existe aí alguma crueza, mas ao longo do processo aquilo que foi cru vai sendo refinado, por isso mantendo as raízes no físico as coisas vão atingindo outra dimensão mais psicológica, se lhe quiseres assim chamar.
8 - Para além de Caribou, que é que ouviste este ano e que forma é que isso te influenciou - se é que te influenciou?
Se formos a pensar em Atillla concretamente provavelmente os discos que mais me influenciaram deste ano foram o I Shall Die Here dos The Body e o Solens Arc de Kangding Ray. Estão numa linguagem próxima da minha, um mais negro e outro mais eletrónico, e sinto que conseguem estar ligeiramente reflectidos, como tudo o que recebo, no que tenho feito. Os discos de Have A Nice Life e Wreck and Reference também me abalaram muito, não tanto na linguagem mas no impacto emocional e visceral que trazem.
9 - 2014 foi um ano castiço - começaste a tocar ao vivo e logo muito bem acompanhado (Tim Hecker no Pos Amplifest), e peças no Público e em meios espanhóis. Começas 2015, a alargar o império em Espanha (com Vessel). Como estás a trabalhar para o novo ano?
De momento estou a trabalhar em tudo o que envolve o lançamento do V, e felizmente não estou a trabalhar sozinho. Também estão a ser agendados já alguns concertos para além do de Santiago de Compostela, ainda nada lá fora, mas cidades novas por Portugal serão visitadas. Tenho feito música fora de Atillla e talvez recupere algumas ideias para trabalhos futuros mas nesse sentido ainda não está nada em andamento pós-V.