Um Café
por ricardo couto
3 de março de 2014
- Não estou a perceber.
- É simples. As noções de mal e de bem não são passíveis de explicação porque simplesmente não existem.
- Eu sei o que é bom e o que é mau! É mau matar alguém e é bom… É bom… Sei lá… Ajudar alguém a levantar-se depois de uma queda.
- Tu pensas que sabes o que é bom e o que é mau. Apenas para ti o defines de forma absoluta. E mesmo aí tenho as minhas dúvidas.
- Então para ti vivemos numa anarquia moral em que cada um faz o que quer sem valorizações ou penalizações comportamentais?
(empregado interrompe para trazer os cafés)
- Desculpe, mas está demasiado curto o café. Encha-me mais um pouco, por favor!
- Mas responde lá: achas que vivemos numa anarquia moral?
- Acho que vivemos numa ilusão maniqueísta em que ou se é bom ou se é mau.
- Então e tu?
- Eu o quê?
- Como é que tu reges as tuas ações?
- Tento fazer o menos mal possível.
(volta o empregado com o café)
(hesitante) – Ahhh… Desculpe, mas parece-me muito fraco. Traga-me antes uma água com gás!
- Devias ter pedido uma água mineral.
- Porquê?
- Fazia-te menos mal…
- Oh, não percebeste! Acho que é inútil fazeres algo por pensares que é bom ou mau. És incapaz de prever, de forma absoluta, se o que fazes tem consequências positivas ou negativas. Algo que aparenta ser bom agora, amanhã pode não ser.
- O bem e o mal são definidos pelo tempo?
- Pelo contexto, sim.
- Então o que nos leva a querer fazer o bem?
- Sentirmo-nos tranquilos connosco e com os outros. Mas as escolhas resumem-se ao menor dos males. Foges ao que te provoque algum tipo de ânsia ou dor.
- É uma perspetiva muito insossa, demasiado fria e pragmática. É quase como se dissesses que não existe felicidade, somente ausência de tristeza ou dor.
- Parece-me mais verdadeiro. O teu grau de felicidade é inversamente proporcional ao número de dilemas e mágoas que tiveres. É por isso que são poucos os que sabem rir com os olhos.
- Mas não acreditas que existam boas pessoas?
- Acredito que existam pessoas com um maior número de escolhas certas, num misto de sabedoria e acaso.
- Ou seja, achas que alguém pode, por sorte, parecer bom?
- Parecer é a palavra certa! Ninguém é bom ou mau. Depende dos juízes. Mas deixa-me dizer-te que estou em crer que é mais difícil escolher mal do que bem. Todos os dias és obrigado a fazer milhões de escolhas por mais insignificantes que sejam e decides bem, isto é, decides pelo menos dos males, a maior parte das vezes.
- Estás a dizer que é mais fácil ser feliz?
- Longe de mim! Estou apenas convicto que é mais fácil não ser infeliz.
- Nem sei se isso é otimismo ou pessimismo…
(o empregado passa pela mesa e, num rápido reflexo, o homem chama-o, pede para esquecer a água)
- Estás a ser um cabrão com o empregado!
- E mesmo assim tu és meu amigo…
- É simples. As noções de mal e de bem não são passíveis de explicação porque simplesmente não existem.
- Eu sei o que é bom e o que é mau! É mau matar alguém e é bom… É bom… Sei lá… Ajudar alguém a levantar-se depois de uma queda.
- Tu pensas que sabes o que é bom e o que é mau. Apenas para ti o defines de forma absoluta. E mesmo aí tenho as minhas dúvidas.
- Então para ti vivemos numa anarquia moral em que cada um faz o que quer sem valorizações ou penalizações comportamentais?
(empregado interrompe para trazer os cafés)
- Desculpe, mas está demasiado curto o café. Encha-me mais um pouco, por favor!
- Mas responde lá: achas que vivemos numa anarquia moral?
- Acho que vivemos numa ilusão maniqueísta em que ou se é bom ou se é mau.
- Então e tu?
- Eu o quê?
- Como é que tu reges as tuas ações?
- Tento fazer o menos mal possível.
(volta o empregado com o café)
(hesitante) – Ahhh… Desculpe, mas parece-me muito fraco. Traga-me antes uma água com gás!
- Devias ter pedido uma água mineral.
- Porquê?
- Fazia-te menos mal…
- Oh, não percebeste! Acho que é inútil fazeres algo por pensares que é bom ou mau. És incapaz de prever, de forma absoluta, se o que fazes tem consequências positivas ou negativas. Algo que aparenta ser bom agora, amanhã pode não ser.
- O bem e o mal são definidos pelo tempo?
- Pelo contexto, sim.
- Então o que nos leva a querer fazer o bem?
- Sentirmo-nos tranquilos connosco e com os outros. Mas as escolhas resumem-se ao menor dos males. Foges ao que te provoque algum tipo de ânsia ou dor.
- É uma perspetiva muito insossa, demasiado fria e pragmática. É quase como se dissesses que não existe felicidade, somente ausência de tristeza ou dor.
- Parece-me mais verdadeiro. O teu grau de felicidade é inversamente proporcional ao número de dilemas e mágoas que tiveres. É por isso que são poucos os que sabem rir com os olhos.
- Mas não acreditas que existam boas pessoas?
- Acredito que existam pessoas com um maior número de escolhas certas, num misto de sabedoria e acaso.
- Ou seja, achas que alguém pode, por sorte, parecer bom?
- Parecer é a palavra certa! Ninguém é bom ou mau. Depende dos juízes. Mas deixa-me dizer-te que estou em crer que é mais difícil escolher mal do que bem. Todos os dias és obrigado a fazer milhões de escolhas por mais insignificantes que sejam e decides bem, isto é, decides pelo menos dos males, a maior parte das vezes.
- Estás a dizer que é mais fácil ser feliz?
- Longe de mim! Estou apenas convicto que é mais fácil não ser infeliz.
- Nem sei se isso é otimismo ou pessimismo…
(o empregado passa pela mesa e, num rápido reflexo, o homem chama-o, pede para esquecer a água)
- Estás a ser um cabrão com o empregado!
- E mesmo assim tu és meu amigo…