Entrevista a Éme
por Patrícia Vale
1. És rapaz para cantar ao chuveiro
só quando o pão “fica por comprar” ou sempre?
A ideia de cantar ao chuveiro no primeiro tema do disco tem mais a ver com a ideia de fazer das minhas canções um álbum do que propriamente com um gosto pessoal por cantar no duche (embora, confesso, goste muito de o fazer).
Pelos vistos, e para minha felicidade, resultou muito bem. Cria um ponto de partida estranho para o que vem a seguir. Além disso, ninguém me fala do álbum sem me fazer uma pergunta sobre isso.
2. “Passos em volta” foi o ponto de partida para que carreiras individuais dessem novos “passos” e “novas voltas”. Ainda assim, sentem-se apoiados uns pelos outros nas carreiras individuais?
Sim, foi mesmo o ponto de partida. Tudo surge daí, para mim. Eles ensinaram-me a tocar a cantar a ouvir e, juntamente com mais amigos talentosos, fundámos a editora que hoje em dia é um dos grandes pilares daquilo que eu faço, a Cafetra.
Portanto é óbvio que somos apoiados uns pelos outros e por mais ainda. Cada vez menos gregários e, possivelmente, nunca tão unidos.
3. Se em Passos, havia espaço para “berrar”, em ÉME és o “rapaz calmo da folk”. Como foi dar este salto e que influência a tua experiência anterior teve influência na tua música?
Essa citação é um bocadinho antiga. Já não consigo subscrever, pelo menos nesses termos. Já não considero que o salto seja do grupo para o indivíduo, também não concordo que dos berros para a calma “da folk” haja necessariamente um salto. Muito menos me consigo considerar um “rapaz da folk”.
Pode ser esse o salto, até. Cada disco que tenho feito é um salto grande comparado com o anterior, seja sozinho aos gritos ou calminho com os Passos ou de outra forma qualquer.
4. Qual foi o maior triunfo de ÉME?
Não consigo dizer/não sei bem…
5. Em “Último Siso” há duas temáticas / palavras que marcam várias músicas: “cara” e “transparente”. Se transparente já és tu e se a cara é a que tens e a que usas quando falas, quando cantas, podemos ler a verdadeira forma de pensar e ser de João Marcelo?
Não sei responder, também. O que posso dizer é que nunca tenho como propósito mostrar a minha essência ou personalidade quando escrevo canções. Também não tenho usado heteronímia e daí talvez me inclua como personagem. Mas isso é uma pergunta que se calhar é boa para fazer a um amigo meu e não a mim. Para mim, feliz ou infelizmente, ainda sou muito mais complexo que as minhas músicas.
6. Sabemos que ninguém te avisou “que ia ser assim”, no entanto, muitos foram os que te apoiaram na construção de carreira. De que forma “Cão da Morte”, por exemplo te ajudou a encontrar este lugar “tão difícil de encontrar”?
O Cão da Morte, meu amigo Luís Gravito foi uma espécie de gatilho para eu começar a compor mais e mais sozinho. É meu amigo e conversamos sobre muita coisa. É um bom exemplo do fácil que é aprender-se com pessoas que nos são próximas.
7. O teu trabalho mais recente foi produzido por “B Fachada”. Encontras semelhanças de estilos entre as duas bandas? Se sim, quais?
Algumas, claro. É uma influência directa para mim. Não sei isolar, na verdade. Mas encontro até mais diferenças, o que para mim é mais interessante.
8. Em “Um lugar” dizes “estou cansado e o caminho é longo”. Até onde queres chegar e o que te faz querer caminhar?
Não tenho por hábito traçar o meu percurso por inteiro. Vou vendo enquanto as coisas vão acontecendo. Não sei o que me faz querer caminhar. Eu, cada vez mais, gosto de estar paradinho e/ou a dormir.
9. Com o lançamento de “Passos”, disseste, em entrevista ao Público (2011), que a premissa da banda seria “quem ouvisse sentisse que eram putos a tocar e não músicos”. Hoje, com “último siso”, com os dentes todos (incluindo os do juízo) e considerado uma das bandas do ano, o que queres fazer sentir (até porque a tua vida, dizes, “já vai longa”)?
O que eu quero agora é que as pessoas utilizem a música que eu faço como quiserem. Não quero fazer sentir nada em específico, moralizar o menos possível. Sinto que não tenho responsabilidade nenhuma sobre as canções que fiz, quando são editadas. E acho isso muito bonito.
10. E já agora, porquê “ÉME”?
O João Marcelo é um cantor brasileiro muito conhecido, muito mais do que eu alguma vez vou ser, provavelmente, por isso achei melhor utilizar um nome que não esse para ser o único e o maior (mesmo assim não sou).
A ideia de cantar ao chuveiro no primeiro tema do disco tem mais a ver com a ideia de fazer das minhas canções um álbum do que propriamente com um gosto pessoal por cantar no duche (embora, confesso, goste muito de o fazer).
Pelos vistos, e para minha felicidade, resultou muito bem. Cria um ponto de partida estranho para o que vem a seguir. Além disso, ninguém me fala do álbum sem me fazer uma pergunta sobre isso.
2. “Passos em volta” foi o ponto de partida para que carreiras individuais dessem novos “passos” e “novas voltas”. Ainda assim, sentem-se apoiados uns pelos outros nas carreiras individuais?
Sim, foi mesmo o ponto de partida. Tudo surge daí, para mim. Eles ensinaram-me a tocar a cantar a ouvir e, juntamente com mais amigos talentosos, fundámos a editora que hoje em dia é um dos grandes pilares daquilo que eu faço, a Cafetra.
Portanto é óbvio que somos apoiados uns pelos outros e por mais ainda. Cada vez menos gregários e, possivelmente, nunca tão unidos.
3. Se em Passos, havia espaço para “berrar”, em ÉME és o “rapaz calmo da folk”. Como foi dar este salto e que influência a tua experiência anterior teve influência na tua música?
Essa citação é um bocadinho antiga. Já não consigo subscrever, pelo menos nesses termos. Já não considero que o salto seja do grupo para o indivíduo, também não concordo que dos berros para a calma “da folk” haja necessariamente um salto. Muito menos me consigo considerar um “rapaz da folk”.
Pode ser esse o salto, até. Cada disco que tenho feito é um salto grande comparado com o anterior, seja sozinho aos gritos ou calminho com os Passos ou de outra forma qualquer.
4. Qual foi o maior triunfo de ÉME?
Não consigo dizer/não sei bem…
5. Em “Último Siso” há duas temáticas / palavras que marcam várias músicas: “cara” e “transparente”. Se transparente já és tu e se a cara é a que tens e a que usas quando falas, quando cantas, podemos ler a verdadeira forma de pensar e ser de João Marcelo?
Não sei responder, também. O que posso dizer é que nunca tenho como propósito mostrar a minha essência ou personalidade quando escrevo canções. Também não tenho usado heteronímia e daí talvez me inclua como personagem. Mas isso é uma pergunta que se calhar é boa para fazer a um amigo meu e não a mim. Para mim, feliz ou infelizmente, ainda sou muito mais complexo que as minhas músicas.
6. Sabemos que ninguém te avisou “que ia ser assim”, no entanto, muitos foram os que te apoiaram na construção de carreira. De que forma “Cão da Morte”, por exemplo te ajudou a encontrar este lugar “tão difícil de encontrar”?
O Cão da Morte, meu amigo Luís Gravito foi uma espécie de gatilho para eu começar a compor mais e mais sozinho. É meu amigo e conversamos sobre muita coisa. É um bom exemplo do fácil que é aprender-se com pessoas que nos são próximas.
7. O teu trabalho mais recente foi produzido por “B Fachada”. Encontras semelhanças de estilos entre as duas bandas? Se sim, quais?
Algumas, claro. É uma influência directa para mim. Não sei isolar, na verdade. Mas encontro até mais diferenças, o que para mim é mais interessante.
8. Em “Um lugar” dizes “estou cansado e o caminho é longo”. Até onde queres chegar e o que te faz querer caminhar?
Não tenho por hábito traçar o meu percurso por inteiro. Vou vendo enquanto as coisas vão acontecendo. Não sei o que me faz querer caminhar. Eu, cada vez mais, gosto de estar paradinho e/ou a dormir.
9. Com o lançamento de “Passos”, disseste, em entrevista ao Público (2011), que a premissa da banda seria “quem ouvisse sentisse que eram putos a tocar e não músicos”. Hoje, com “último siso”, com os dentes todos (incluindo os do juízo) e considerado uma das bandas do ano, o que queres fazer sentir (até porque a tua vida, dizes, “já vai longa”)?
O que eu quero agora é que as pessoas utilizem a música que eu faço como quiserem. Não quero fazer sentir nada em específico, moralizar o menos possível. Sinto que não tenho responsabilidade nenhuma sobre as canções que fiz, quando são editadas. E acho isso muito bonito.
10. E já agora, porquê “ÉME”?
O João Marcelo é um cantor brasileiro muito conhecido, muito mais do que eu alguma vez vou ser, provavelmente, por isso achei melhor utilizar um nome que não esse para ser o único e o maior (mesmo assim não sou).